Monday, May 28, 2012

Bacalhau



 Aos Sábados há a Festa Portuguesa no Mercado CADEG, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O Gether ia lá conhecer o espaço, uma vez que ia fazer um trabalho para eles, e eu aproveitei a boleia! (também não era difícil convencer-me... eu sou muito fácil quando me oferecem comida)

A aventura começou quando saímos do metro na estação Triagem e não fazíamos menor ideia para onde ir - ou seja, não me serve de nada passear com um carioca no Rio. Lá perguntámos a um mecânico que estava na rua a fingir que mexia num carro descascado perto da entrada da estação, que nos contou a estória do seu tempo de trabalhador do clube Vasco da Gama (o clube dos portugueses aqui no Rio - conhecido como o eterno vice-campeão) e nos disse há exactamente quanto tempo trabalhava lá "34 anos, 7 meses, e uhmm......10 dias!"

Mais ou menos com um norte, lá seguimos e fomos perguntando direcções, sempre a mecânicos que são uma espécie fiável. Entrámos no mercado, um edifício gigante com blocos lá dentro que funcionam como quarteirões organizados ortogonalmente com ruas numeradas na transversal da rua principal. Supostamente as coisas lá são mais baratas, eu aceito essa premissa, mas um six pack de Superbock custava quase 20 euros.

Fomos até à rua 16 onde seria a tal festa portuguesa, e vimos uns restaurantes portugueses que me deixaram com água na boca, e atravessámos um restaurante de forma a entrar num logradouro que parecia saído de um filme do Tim Burton, mas versão tuga vá: atravessámos a toca do coelho tal qual a Alice no País das Maravilhas, e o tempo parou! Entrámos numa festa colorida, com bandeirinhas penduradas como às vezes se vê em Alfama, um palco montado no centro com concertinas e acordeões, e nos poucos metros quadrados em que não havia mesas estava uma multidão de emigras a dançar o vira. Era gente de todas as idades, apesar de a grande maioria já ser sénior.
Havia personalidades marcantes, mas que infelizmente não se destacavam pela sua diferença uns dos outros, uma vez que eram muitos - passo a descrever um indivíduo que me fascinou em particular: novo, com cerca de 30  anos, uma t-shirt num tom "rôxo-escuro-não gay" com gola em V, de forma a poder mostrar os fartos pêlos do peito, muito moreno, com um farfalhudo bigode à Zé (não sei que tipo de bigode é este, mas é a melhor maneira que eu tenho de descrever este evento capilar) e barba rija por fazer. Por acaso estava de ténis calçados, poderia ser uma coisa com mais classe, mas ainda assim não estragou o conjunto. O mais importante, a meu ver, eram os pesados colares de ouro, que se encaixavam com perfeição no decote acentuado da t-shirt, tal qual numa moldura feita à medida. A atitude de macho latino com que dançava era de uma classe superior à de qualquer outro mamífero que se encontrava nas redondezas, tinha até um ligeiro ar de despreocupação com a concorrência, claramente confiante na sua atitude de homem dançante - a companheira era provavelmente a sua esposa, mas ser-lhe-ia indiferente se fosse a Bárbara Guimarães ou a Floribela (as suas divas de eleição), ele estava num mundo próprio.
Posto isto, chegou a comida: um delicioso bacalhau assado na brasa, posta alta bem salgadinha, regado em azeite e acompanhado por umas batatas cozidas cobertas com cebola e bastante alho picado, tudo servido numa travessa de barro. Eu nunca tinha bebido cerveja em Portugal, mas institivamente apeteceu-me perguntar "tem Superbock?" - não perguntei, e caiu-me a real quando o empregado falou uma coisa qualquer em brasileiro e o meu espírito andou 3 passos para trás... decepcionado. Eu queria um Sr. Manel ou um Sr. Zé de bigode branco a servir à mesa com um ritmo alucinante e nervoso a perguntar: "vai mais um pãozinho pá menina, uma imperialzinha pode ser? Sai mais uma dose de batatinhas para a mesa 5" (gosto muito dos diminutivos lisboetas).
Lá nos lambuzámos com o bacalhau, o melhor que comi até agora aqui no Rio, e fomos ver os doces, que não tinham grande aspecto, e sabiam ao ar que tinham.

Foi muito bom! Adorei! A repetir!


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