Friday, February 21, 2014

Saudade II

Agora que o meu irmão também virou emigrante e assim que se viu desterrado numa cidade pescatória no sul da Noruega, as comunicações têm sido bem mais assíduas. Mi gusta. Ainda bem que inventaram o whatsapp e o facebook e o skype e o gtalk e o hangaouts.

É engraçado ver como ele ganha asas pela primeira vez. Não que o moço fosse atado. Ele sempre foi muito desenrascado e independente. Reagindo sempre melhor que eu em situações que fugissem do nosso habitual. Pega na mota e numa semana atravessa o deserto marroquino com outro maluco que nem ele.

Agora...Noruega..... brrrrhhh!! vem-me sempre um arrepio na espinha cada vez que imagino como é que ele foi lá parar.

Imagino como se sentirão os meus pais? Uma filha que virou carioca, com 42ºC e sem chuva há um mês - e um filho com 12ºC negativos num constante banho de chuva. Oh, the irony!

Saudade

Julho 2012

Pois é... Isto não é tão fácil como parece...

Às vezes sinto que me estou a afastar de casa de uma maneira metafísica. A forma física já a tinha perdido quando entrei no avião, mas a parte sensorial começa a afectar-me. Há umas pontadas de saudade tão agressivas e profundas, parece que os meus órgãos fizeram um "pause" e deixei de ter o bater do coração ou o movimento da caixa torácica. É uma espécie de ansiedade causada pelo receio do afastamento nas outras pessoas, ou seja, medo que me esqueçam.
Sei que os meus pais não me esquecem nunca, (you better) - ponto assente.
Mas às vezes ponho-me a pensar no insensível do meu irmão, que não é mal dele, é mesmo daquela personalidade de gajo - que estuda mecânica e que não fala ao telefone e que não vai ao skype e que não partilha informações pessoais com ninguém e que fica ofendido cada vez que alguém fala com ele - emfim... Fico a pensar que já não faço parte da vida dele, que já não sei o que ele anda a fazer (aliás, sei, props sara) e perco o direito de saber... é uma sensação estranha. Pergunto-me se ele se lembra de mim, e se tem sequer alguma curiosidade sobre o que eu ando a fazer por aqui (se calhar é poressa razão que eu partilho a minha vida toda no FB e aqui, na expectativa que os meus amigos leiam e pensem em mim... não quero ser esquecida).

Arte de Portas Abertas em Santa Teresa

Julho 2012




É um acontecimento anual. Os estúdios dos artistas abrem as portas aos visitantes durante um fim-de-semana inteiro. Normalmente são as próprias casas onde vivem e trabalham, lindíssimas e com uma vista fantástica! Aliás, quase tudo em Santa é acompanhado por essa vista fantástica da cidade toda.

Fui ao Parque das Ruínas, um casarão 










Arraial Paquetá

Tenho de começar a colocar a data nestes posts... Foi escrito em Julho de 2012:

Existe uma série de festas juninas, que supostamente são só em Junho, mas como aqui no Brasil tudo o que é festa se estica ad aeternum, estamos em julho e fomos a uma festa junina ou arraial ou arraiá ou whatever...
Então, a festa seria à tarde, em Paquetá, que eu não fazia (nem faço) menor ideia onde fica. Era preciso ir de barco, a viagem dura uma hora e dez minutos, e como o ultimo barco de regresso era às 22:10h, a festa também acabou cedo. Mas foi muito divertida! Para começar, a grande maioria do publico vai vestida de caipira, onde predominam as camisas aos quadrados, calças de ganga, chapéus de palha, botas e suspensórios.
Havia uma banda de forró e muita animação com vários jogos: corrida de saco, corrida com uma laranja equilibrada em cima de uma colher presa na boca, dançar a pares com uma laranja presa entre as testas, uma dança (+/-) coordenada com todos os presentes... Muito divertido!
Apesar de pecar um pouco na organização dos comes e bebes (a caipirinha era uma desgraça e nem deveria ser chamada por esse nome) e a cerveja acabou lá para as nove da noite! Agora os doces estavam pecaminosos...

Venham mais festas como esta! Só é pena ser tão longe!

Normal

Às vezes penso "apetecia-me ter uma vida normal".

Mas o que é isso de "uma vida normal"... não é o que eu já faço?
À medida que vou conhecendo cada vez mais (ou melhor) as pessoas que verdadeiramente sofreram como é que eu me posso queixar de saudades da família e do cão, ou de coisas supérfluas como o trabalho, a dor nas costas, o cansaço físico ou a dor emocional do mundo moderno.
Nem estou a olhar para os acontecimentos de hoje em Kiev, as revoluções na Venezuela, a eterna fome em África, os antigos presos políticos no aqui Brasil, ou um sem-número de outras situações reais que nos fazem sentir pequenos. 
Estou, egoísta tímida, a pensar apenas nos meus amigos próximos que me rodeiam sem se queixar dos seus segredos profundos que tenho vindo a desvendar. A morte lenta por uma doença terminal da pessoa mais próxima, o aborto solitário sem ninguém para escutar e sem ninguém com quem contar, as traições fortes que insistem em manter e as doenças incuráveis que socialmente nos isolam, penso nos que mataram sem escrúpulos e nos que foram torturados e escravizados em fábricas sem conceito de tempo. Penso que são as pessoas que mais me preenchem e me rodeiam num quotidiano normal. Sinto-me pequena perante o vosso sofrimento.

O que eu quero é ser ignorante do Mundo.