Thursday, July 19, 2012

Penguin

No outro dia nadei com um pinguim.... As coisas que acontecem nesta terra!!!

Estava muito bem no Arpoador, as usual, a ler um livro sozinha na praia. Estava calor, fui dar um mergulho. Até aqui tudo bem. Vejo um bicho dentro de água e pensei "Normal, esta terra tá cheia de pássaros estranhos". Olhando melhor, e uma vez que se aproximou muito de mim, reparei que era um pinguim a apanhar ondas, na dele, a curtir a cena. Começou a juntar-se uma multidão de criancinhas extasiadas com gritinhos estridentes: "Mamãe, um pinuim!! posso ir lá - posso posso posso?" - e eu "Ok, vou dar os meus mergulhos e pôr-me a andar daqui para fora antes que me roubem a bolsa que ficou sozinha e abandonada na areia", despedi-me do "pinuim" e fugi do arraial.




Viver Fora


A melhor descrição que encontrei sobre viver fora: "What Happens When You Live Abroad"

E porquê? Porque de todos os blogues e reportagens que se vêm por aí, desta nova onda de emigração (ou seja, malta qualificada entre os 20 e 30 anos que vai à procura de trabalho noutra terra) onde só se fala em como é difícil a adaptação, as saudades da família, voltar a casa de 6 em 6 meses, voltar ao país ao fim de um  ou dois anos, em que é uma situação provisória, que já se sabia que não se ia gostar de viver neste outro lugar, da comidinha boa, do sol, do frio, que era o único lugar em que há trabalho... enfim, um chorrilho de queixas, que eu também me queixo, atenção! Mas o sentimento não é livre, é uma condição de negação intrínseca, onde uma pessoa está aberta a novas experiências, tudo bem, mas no fundo no fundo, não as aceita.
O que eu quero dizer é o seguinte: este é um dos primeiros artigos em que eu vejo um sentimento de pertença ao novo local, onde ele diz que nós somos emigrantes que saímos do nosso país, mas agora somos imigrantes no nosso "novo" país. Acho que ele explica bem o sentimento de pertença ao lugar que nos acolhe, no meu caso, de braços abertos!
Não quero por isto dizer que uns estão certos e outros errados, é óbvio que é difícil emigrar, e as pessoas que ficam não se apercebem disto, mas nós também andamos tão "entretidos" com tanta coisa diferente que nem vemos o tempo passar. 
É complicado explicar que quando estamos fora do país nos apercebemos o que é estar sozinho... não é por falta de amigos, esses encontramos em todo o mundo. Mas aqueles 2 ou 3 amigos que conhecemos há milhares de anos e a quem despejamos a alma toda de vez em quando... esses ficaram, ainda por cima quando há tanta coisa para contar! Mas as novas amizades que fazemos aqui, são mais rápidas e aprofundam-se depressa (por força da necessidade? - ou por afinidade de situação?).
É complicado explicar que, por mais semelhanças que existam entre os dois países: as diferenças que são pequenas tornam-se gigantes ao fim de um tempo (mas depois adaptamo-nos e deixam de existir - ou queixamo-nos ad aeternum). Para além dos obstáculos óbvios: casa/trabalho/visto/dinheiro.

Bom, perdi-me de novo no raciocínio, (pai, umas dicas desse curso de escrita não?). Há portanto, e obviamente, vários tipo de emigrante, de entre eles há os que assumem um prazo e vão interiormente contrariados "tive que sair do país", há os que saem à procura de aventura e adaptam-se de uma forma provisória - gostam da experiência "tá muito giro, mas já chega", há os que vão mais ou menos por força da necessidade acabando por ficar mas always saudosistas, há os que se apaixonam pela nova terra, há os que negam as origens, há os que vão porque o companheiro vai e escondem os sentimentos de "viver a vida de outra pessoa", há os que têm família e ganham raízes, há os que ganham família e fazem raízes, and so on...

É muito difícil ficar longe da família e dos amigos, e com esta história do FB mostrar as vidas deles a acontecer (sem mim) deixa-me uma lágrima no canto do olho... mas ao mesmo tempo aproxima-me deles (uma vez que não somos de telefonemas nem de skypes, o FB é na verdade uma óptima ajuda!). A vida "lá" não pára, mas a vida "cá" anda a uma velocidade estonteante!
Tenho saudades, claro que sim. Nunca vou deixar de ter saudades, não vou deixar de me queixar de como a comidinha portuguesa é melhor e mais variada, até do frio tenho saudades, odeio estar tão longe dos meus cães, odeio ver os acontecimentos importantes passarem sem a minha presença (Cris & Kings - ver o meu bro de fraque ahahah)... enfim! Mas se quero voltar? No way! Estou tão bem, mesmo estando "tããão mal", ahahaha, não é uma boa analogia. Faz parte, a saudade faz parte.

Mas aquele sentimento de percorrer as ruas do Rio a pé e sentir que as conheço como se fossem minhas, ir sozinha ler um livro para o Arpoador ("Aprex" props Pedro) e sentir que já é um hábito meu, chamar as ruas pelo primeiro nome, sair para Santa nos fins-de-semana, ir ao BG tomar um chope às quintas, sei lá! No fundo é sentir-me em casa. Mas a minha casa também é especial: tenho a Rita e a Marga, e o meu irmãozinho Gether, são a minha família cá. Temos jantares de família, temos festas acolhedoras em casa de amigos com Party & Company e um copo de vinho, temos vizinhos, temos vários grupos de amigos  de diferentes nacionalidades espalhados pela cidade, temos os colegas de trabalho que são muito animados e dispostos a tudo (tanto sair à noite, como fazer trilhas de madrugada), temos os almoços na lagoa, temos praia e temos trilhas no centro da cidade (mesmo), temos brigadeiro, arroz com feijão, pé de moleque, paçoca, tapioca com queijo e côco, temos goiaba, manga, mamão, abacaxi, tamarinos, temos cachaça, caipirinhas, temos calor, temos samba, forró, arraiais, festas juninas e temos o Carnaval! 
(não vou enumerar o que não temos, fica para outro momento)

Uma grande amiga paulista que conheci quando vivia em Milão, veio ao Rio e quando estivemos juntas ela disse "Nossa Rita! Como é que eu nunca tinha pensado nisto antes! O Rio de janeiro é a sua cara! Você nasceu para viver nessa cidade."