Sunday, November 27, 2011

Workin' in Rio

Pois é, a parte complicada é o visto.
Mas aqui vai o meu "Guia não oficial para arranjar trabalho no Rio de Janeiro (em menos de uma semana)"

Ora vamos por partes:

1. Uma pessoa estabelece o objectivo de vir viver e trabalhar para o Brasil.
Porquê? Porque em Portugal não se consegue arranjar trabalho pago. Nem falo especificamente de arquitectura (porque é bastante deprimente olhar para os anúncios de emprego que pedem um arquitecto com 5 anos de experiência para receber 800€). O clima em Portugal é de depressão generalizada, cada dia ficamos mais pobres, mais tristes, e mais deprimidos - sim, depressões a sério, com medicação e tudo (que, by the way, já não é comparticipada)
Ok, foi escolhido o Brasil, agora é só escolher a cidade. Em São Paulo há mais oferta de emprego, e em Brasília não há favelas, mas no Rio de Janeiro há mar!! E que cidade maravilhosa! (for real)

2. Fazer um estudo de mercado.
Nem é preciso levar a coisa muito a sério, basta ir à net, falar com pessoas e amigos de amigos que tenham um primo que é vizinho de um tipo que conhece uma moça que trabalha numa empresa qualquer, e enviar mails com fartura carregadinhos de exageros e coisas maravilhosas sobre a fantástica experiência de trabalho. Obviamente que convém ter um bom currículo, coisa moderna, portfolio na net (caso seja aplicável - mas fica bem a qualquer um ter uma página no Linkedin). Não te esquecer que o CV tipo Europass não é o modelo brasileiro -pode-se usar a mesma estrutura mas mudar a cara da coisa.
Basicamente é preciso fazer uma pesquisa inicial das empresas em que se pretende trabalhar. Tirar a morada, ver +/- no Google Maps onde é que essas empresas ficam, e traçar um plano de ataque (ponto 5).

3. Arranjar uma casa.
Caso não se obtenha resposta a nenhum email, que é o que vai acontecer (eu mandei má-de mil mails miga  e não tive nem uma resposta) não é preciso desesperar, eu consegui emprego em menos de uma semana.
O ideal é uma pessoa comprar logo o bilhete de avião de ida e volta por 6 meses (o tempo do visto é três meses, mas pode-se ir à Policia Federal carimbar o passaporte para ficar válido por mais três meses). Com a passagem de avião na mão, deixa-se logo de pensar "ah...se calhar afinal não vou", principalmente depois do valor astronómico que se paga pelos bilhetes.
Para arranjar casa convém conhecer as zonas da cidade em que se pode alugar casa, e mais ou menos os preços praticados, e não há nada como falar com amigos de amigos que conhecem alguém, etc etc, porque as pessoas estão todas dispostas a ajudar, e principalmente a dividir casa.
A coisa por cá não está assim tão fácil. Arranjar casa é o passo mais difícil. Eu tive sorte e vim dividir casa com a Rita que já cá está há 3 anos, e estamos em processo de procura de outra casa para dividir por três com a Margarida, que mora por cima de nós (bem lá em cima, nós estamos no primeiro andar e ela no sétimo). As rendas estão a aumentar e como nós não conseguimos fazer contrato porque não temos fiador (granda filme) não conseguimos impedir que as rendas aumentem de mês para mês, ainda por cima com esta brincadeira da Copa do Mundo aí à porta, e os Jogos Olímpicos também.
Anyway, as melhores zonas são as seguintes:
Zona Sul:
Leme: barato e mais perto do centro;
Copacabana: animado, não tão barato, mas é o melhor sítio em termos de localização e transportes;
Ipanema: mais caro que copa, mas tem mais classe e fica mais perto da lagoa (e as pessoas são bem mais giras);
Leblon: bem mais caro que todos os outros sítios, é a zona chique, mas também é bem bonito e tranquilo;
Gávea: ahahaha, nem pensar!
Barra da Tijuca: Condomínios e condomínios atrás de condomínios, é preciso ter carro e fica longe de tudo - aparentemente consegue-se encontrar coisas até nem muito caras, mas atenção que depois paga-se um balúrdio de condomínio, e os acessos são terríveis porque aquilo ficá lá no c* de Judas;

Ajuda bastante dar uma olhadela em blogues e mapas para fazer uma sondagem da cidade assim por alto.

4. Chegada.
Agora é que são elas... Começa o stress psicológico de não ter um emprego, misturado com a adrenalina de conhecer a cidade e o estilo de vida, descobrir as diferenças, começar a comparar preços e qualidade de vida, conhecer as ruas ao pé de casa, etc.
Antes se se passar ao ponto seguinte (a efectiva busca de emprego) é muito importante, repito, MUITO IMPORTANTE, obter o mais rapidamente possível  um telemóvel com um número brasileiro, morada brasileira da cidade em que se procura emprego, e CPF. Só depois de ter a morada e o telemóvel é que se pode procurar trabalho, senão eles nem querem saber (é por isso que não responderam aos emails que foram enviados anteriormente - para eles é muito importante a pessoa já estar a morar no Brasil)

5. Plano de Ataque.
E só assim é que funciona: imprimir currículos, portfolios e cartas de recomendação, e ir a cada empresa (previamente seleccionada enquanto ainda em Portugal) e atacar directamente na fonte. Ou seja, chegar lá e pedir para falar com a pessoa responsável pela contratação, que se está à procura de emprego, etc e tal. Eles normalmente respondem logo que a pessoa não está, então aí deve-se insistir e dizer que se quer falar com um arquitecto (cada caso é um caso) e que qualquer um serve, mas que apenas pretende deixar o currículo com alguém, e que é coisa rápida... enfim, cada um canta a cantiga que quiser, mas o importante é uma pessoa demonstrar mesmo que está interessada, e a partir daí é uma questão de vender melhor o peixe!
Convém falar com alguém da mesma área para ter uma noção de qual é o ordenado médio, para saber o que pedir, mas isso é job interview 1o1 em qualquer lugar! Nem preciso de dizer que é preciso estudar bem a empresa antes de ir lá bater à porta.

Agora, dependendo do tipo de trabalho, pode ou não existir a possibilidade de eles assinarem a carteira de trabalho, ou seja, ser legal e com contrato de trabalho. O que sucede é que um trabalhador que receba ordenado com contrato tem um quantidade astronómica de impostos para pagar, e a coisa fica pela metade, é preciso ter muita atenção a quanto é que se vai receber limpos! As vantagens são muitas porque normalmente vêm com plano de saúde e dentário e refeições incluídas - para não falar do visto!

6. O Visto.
Ah pois é! E agora, que uma pessoa já se preparou para assentar arraiais, tem apenas seis meses para inventar uma manha qualquer para conseguir o visto. As únicas hipóteses (aceitáveis, obviamente que vou emitir o casamento com um brasileiro) são o tal contrato de trabalho - que é quase só para as construtoras - mais ou menos impossível de conseguir porque as empresas pagam tantas taxas que preferem ter mais de 50 trabalhadores off the record - ou então tentar o visto de estudante: gastas uma pequena fortuna a tirar um cursozeco aos sábados durante dois anos para teres um visto à maneira! E esta até é uma boa hipótese, considerando os excelentes descontos de estudante que eles fazem aqui, é até bastante rentável. Outra hipótese mais remota é tornar-se sócio de um brasileiro, ou residente, mas aí já é um investimento maior que envolve advogados e comprovativos de produção e outros papéis com nomes todos fancy, e uma pipa de massa a entrar no Brasil (que até nem é má ideia meter aqui o dinheiro a render pois a percentagem de lucro é +/- 10% a mais que na Europa - muita bem!)

7. Depois de ter o visto: Enjoy!
É uma vida espectacular. Trabalha-se muito durante a semana, mas esta cidade fervilha de emoções diariamente. Se dá para uma pessoa fazer muito dinheiro ou não apenas depende do tipo de empreendedorismo de cada um e há oportunidades para todo o tipo de negócio. Ainda falta muita coisa comparando com a Europa, isto em termos de acesso a certos produtos e a uma certa qualidade de vida. Lá está, é a ausência de uma classe média, e a mania dos produtos importados (com razão, a qualidade de algumas coisas é bem duvidosa). Falta mão de obra especializada, e isso sente-se muito na eficiência e funcionamento das empresas. Os equipamentos são caros porque são importados, mas em compensação os materiais são ao preço da chuva.
Mas agora vamos ao que é mais importante: um mercado de 190 milhões - e cada um explora isso da maneira que melhor entender.


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